Indígenas participam da 8ª conferência em busca de inclusão. Cerca de duas mil pessoas circulam diariamente por debates, painéis, atividades culturais e outras vivências proporcionadas pela 8ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que acontece até o dia 10 de dezembro, em Brasília. Entre tantos participantes, alguns chamam a atenção por onde passam. É o caso dos quatro jovens indígenas, dois delegados e dois observadores, da etnia Pataxó. Oriundos do município de Coroa Vermelha (BA), vieram em busca da inserção das questões indígenas nos debates da conferência. Em vestimentas tradicionais, com belos adornos, eles trazem na bagagem as discussões e os objetivos traçados nas etapas regionais da conferência: desmistificação do índio e inserção sociocultural das comunidades tradicionais na sociedade.
Ubiraí, 17, e Taiane, 15, são os únicos delegados indígenas e reclamam da distância não apenas física, mas também simbólica que os separa do restante da sociedade “O governo não chega até nós, assim como as próprias instituições de direitos. Com isso, faltam debates e ações mais próximas das nossas tribos e da realidade cultural de nossas comunidades, o que dificulta a participação e a vinda de mais parentes do país”, ressalta Ubiraí.
Taiane conta também dos preconceitos diários que sofre por conta desse distanciamento. “As pessoas vem nos dizer que se somos índios de verdade, deveríamos estar nus e dançando. Como podemos vestir menos roupa se já falta conhecimento e respeito antes até de saberem nossos nomes?”, indigna-se a jovem Pataxó.
Os dois delegados têm participado dos painéis e debates, onde esperam conseguir espaço para abordar assuntos relevantes quanto aos direitos e entendimento dos primeiros habitantes do país no contexto das conquistas e temáticas nacionais, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “O estatuto representa um grande ganho, mas há questões que precisam ser mais bem detalhadas. Primeiro as pessoas precisam entender que não existe a definição de adolescente entre os índios, ou se é criança ou se é adulto, denominação que ganhamos quando casamos”, explica Taiane.
Ubiraí aponta outro ponto referente ao estatuto, que promete polêmicas e discussões no que tange o tema do trabalho infantil. “A cultura indígena é diferente. Entramos em contato com a pintura e o artesanato desde cedo, que são entendidos como fonte de renda, mas também como expressão de arte. O trabalho não é infantil, e sim familiar. Isso ocorre com os índios, com os quilombolas e outras comunidades tradicionais que precisam ser compreendidas e preservadas”, afirma o indígena.
Em meio a tantas pausas de pedido para fotos com pessoas que talvez nunca tenham tido contato com índios, os jovens pataxó esperam que o interesse dos participantes da conferência pela cultura indígena ultrapasse o campo estético e que suas opiniões e reivindicações sejam ouvidas e respeitadas, “Além de índios, somos também sujeitos de direitos”, finaliza Ubiraí.