A Nova Gripe A H1N1 não é mais fatal no Brasil do que em outros países

0

O número de mortes causadas pela Influenza A (H1N1) no Brasil não indica que a nova gripe é mais fatal aqui do que em outro país. Esta é a avaliação de David Mercer, diretor regional do Departamento de Doenças Infecciosas da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa. Para o dirigente, um dos fatores que explicam o número de óbitos registrados no país é a transparência do governo em divulgar os casos.

David Mercer também considerou acertada a política do Brasil para indicação do medicamento fosfato de oseltamivir, que segue as recomendações da própria OMS. De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, a droga não deve ser dada para todas as pessoas com sintomas de gripe. O medicamento é usado para tratar pacientes com doença respiratória grave, pertencentes a grupos de risco para complicações por influenza ou que tiveram uma piora repentina no estado de saúde.

O especialista da OMS falou com a Agência Saúde nesta quarta-feira (2), um dia depois de conceder entrevista a jornalistas em Lisboa (Portugal), onde participou de conferência para discutir novas estratégias de enfrentamento do A (H1N1).

Agência Saúde: Como o senhor avalia o número de mortes registradas no Brasil pela nova gripe?

David Mercer: Um dos fatores para explicar o grande número de registros no país é a transparência das autoridades em divulgar os casos. No Brasil, como nos Estados Unidos, que registram número de mortes maior, os governos são transparentes. Verifica-se uma qualidade no registro dos óbitos. Há alguns países que apontam como causa da morte de pessoas a pneumonia ou outras complicações – sendo que elas foram decorrentes da nova gripe. Não é que a doença seja mais virulenta ou o vírus mais fatal [no Brasil] do que em outros países, na Europa, África.

AS: Como o senhor vê a orientação do Ministério da Saúde de tratar com antiviral apenas os grupos de risco e casos graves?

DM: O procedimento foi correto. Essa política recomendada pela OMS aconselha que o tratamento seja dado só às pessoas com sintomas mais graves da nova gripe. Não dá para prevenir a doença com o antiviral. Ele é apropriado para as pessoas de grupos de risco, como gestantes, obesos e pessoas com problemas vasculares ou asma. A medicação também deve ser aplicada nas crianças, que podem ter mais complicações causadas pelo novo vírus. Mas não é necessário prescrever o antiviral para a maioria das pessoas.

AS: O que o senhor achou da estratégia inicial do Brasil de reforçar os cuidados com pessoas vindas de fora do País em portos, aeroportos e zonas de fronteira?

DM: Na fase muito inicial da pandemia, essa é uma medida correta para tentar conter a disseminação do vírus. Mas, agora que a doença se espalhou em vários países, algumas restrições não são mais válidas. Por exemplo, não é preciso deixar de viajar para um local específico para não pegar a gripe A. O ideal é focar em medidas de prevenção, especialmente a constante higienização.

AS: Com a chegada do inverno, a OMS acredita que haverá um aumento no número de casos na Europa?

DM: A OMS está planejando e trabalhando com um aumento de casos no Hemisfério Norte. Mas nós estamos preparados e já adotamos medidas de vigilância, assistência e prevenção para que a situação não se agrave com o inverno.

AS: E qual é a expectativa de vacinação contra a nova gripe? Em que pé está esse processo?

DM: Bem, a vacina está em fase de testes clínicos. O que já podemos adiantar é que essa vacina só imunizará contra a Influenza A (H1N1). Quem quiser se proteger contra a gripe sazonal terá que tomar a vacina específica. Então, as duas vacinas são necessárias, dependendo do caso e do grupo de risco.

AS: Mas haverá vacina suficiente para todo mundo?

DM: Já se sabe da possível escassez de vacina contra a Influenza A (H1N1). Por isso, cada governo deve ter cuidado em garantir a imunização, primeiro, para os grupos de risco. Todos [desses grupos] devem estar protegidos contra a nova gripe. Certamente, o Brasil estará numa posição melhor que alguns países porque terá a produção local da vacina contra o A (H1N1). Mas claro que muitos fatores ainda devem ser levados em conta, como quantas pessoas terão de ser vacinadas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui